Entrevista a Bailarina Principal da CNB

Bom dia 🙂

Aqui há tempos contactei uma das bailarinas principais da Companhia Nacional de Bailado (CNB) – Solange Melo – nascida em Lisboa, em 1980. Perguntei-lhe se estava disposta e disponível para me responder a umas perguntinhas, e a resposta foi bastante positiva. Quero agradecer-lhe desde já 🙂

Por isso, hoje tenho para vocês uma entrevista que foi feita à mesma, por mim.

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Então aqui vai começar, espero que gostem 🙂

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1. Pode começar por falar um pouco de si?

Não é fácil! Eu não gosto muito de falar sobre mim! Mas vou tentar! Sou muito extrovertida e brincalhona! Adoro rodear-me de pessoas com sentido de humor! Também sou bastante determinada e disciplinada, mas acho que grande parte se deve à dança e aos grandes exemplos com que sempre cresci.

2. Como apareceu o gosto e interesse pela dança?

Segundo o que a minha mãe conta, pedi-lhe, assim do nada, para ir para o ballet. Acho que, assim como muitas outras meninas, fantasiava sobre ser bailarina e encarnar várias personagens em palco.

3. Com que idade começou a dançar? E que estilo?

Comecei a dançar com 4 anos. Com essa idade ainda não era nada profissional, era apenas uma actividade que eu adorava. Claro que comecei pela dança clássica, acho que ainda é uma tendência geral!

4. Qual o estilo de dança preferido? E porquê?

Não posso dizer que tenha um estilo preferido. Posso dizer que a dança clássica é a minha zona de conforto e foi o meu primeiro amor, o que me levou a ir para a dança. No entanto, adoro dança contemporânea! A maneira de utilizar o corpo é mais livre e talvez aja uma relação maior com as emoções e sua expressão. Acho que estes dois estilos se complementam e que como bailarinos só temos a ganhar se tivermos oportunidade de dançar os dois géneros.

5. Como entrou na Companhia Nacional de Bailado?

Eu fiz a minha formação no Conservatório Nacional. No final dos 8 anos de curso (fim do 12º Ano), entrei na CNB como bailarina de Corpo de Baile. O Professor Jorge Salavisa e a Professora Luisa Taveira eram na altura, para além de Directores da CNB, professores do Conservatório. Eles conheciam bem o nosso percurso e trabalho, e assim, convidaram-me e a mais duas colegas, para integrar o elenco da CNB.

6. Como se tornou bailarina principal da CNB?

Eu tornei-me Bailarina Principal da CNB em 2012. Na altura era bailarina Solista e tinha desempenhado o papel principal de duas produções clássicas da Companhia, Julieta em “Romeu e Julieta” e Princesa Aurora em “A Bela Adormecida”. Foi na sequência dessas produções de se oficializou a passagem a Bailarina Principal. Foi um momento muito emocionante e verdadeiramente inesperado.

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7. Quais as pontas de eleição?

As minhas pontas de eleição são as Freed! Ao longo dos anos fui mudando algumas especificações mas sempre calcei Freed! Como são feitas à mão e por medida, nem sempre vêem exactamente iguais! esse é o lado menos bom! Mas não é motivo para mudar, até porque são confortáveis para mim!

8. Como faz para miminizar os efeitos negativos causados pelas pontas, nos pés?

Hoje em dia, por exemplo, sofro um pouco de dores nas unhas! acho que é fruto de já muitos anos em bicos de pés! Para minimizar as dores uso proteções dentro das pontas e umas argolas de silicone à volta das unhas dos dedos grandes.

9. Qual o bailado que mais gostou de fazer parte?

Há muitos bailados especiais para mim. Acho que não posso escolher só um. Dançar bailados de Balanchine sempre foi para mim um grande prazer e privilégio. Posso dizer que talvez “Apolo” e “Serenade” tenham sido os que mais gostei de dançar. Também foi muito especial para mim dançar o Bailado de John Cranko “Onegin” com a Ballet National da Noruega. Não só porque adoro o ballet mas porque fazia par com o meu marido, Fernando Duarte, e porque toda a experiência de ensaios e palco foi uma grande aprendizagem. Mais recentemente, tem sido muito especial para mim dançar os bailados que o Fernando tem coreografado para a CNB como o Lago dos Cisnes e O Pássaro de Fogo.

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10. Em Junho fez parte do espétaculo “O Pássaro de Fogo”. Como foi essa experiência? Correu bem?

Gostei muito de Dançar “O Pássaro de Fogo”. Foi uma experiência muito boa, tanto o processo de criação como os espectáculos em palco. É muito gratificante fazer parte de uma criação. É um processo duro que exige muita dedicação e entrega porque queremos ao máximo corresponder à imaginação e vontade do coreógrafo. No entanto, é um desafio muito importante como bailarina e um verdadeiro privilégio ter alguém a criar em ti. Para além disso, o conceito do espectáculo com todo o video mapping, é bastante inovador e foi extremamente gratificante perceber o entusiasmo do público. Espero que a CNB volte a repetir este bailado e que possa ir em digressão pelo país fora.

11. Quais os bailarinos preferidos?

Há muitos bailarinos de quem gosto e que me inspiram enquanto artista. Posso dizer que talvez a bailarina que mais me marcou e que admiro muito é a Sylvie Guillem. Apesar de ter nascido com um físico extremamente dotado para a dança, ela demonstrou sempre ao longo da sua carreira (que infelizmente está a terminar), porque é que se tornou uma grande estrela. A um talento excepcional juntou-se uma inteligência extrema, um paixão pela dança e um sentido artístico único.

12. Gosta mais de dançar a solo ou em grupo? E porquê?

Tanto dançar a solo como em grupo são experiências gratificantes. Dançar a solo exige um trabalho mais individual e em que a tua expressão artística pessoal está mais em evidência. No solo existe talvez uma expressão artística mais livre. No entanto, na dança de grupo existe uma força poderosa. Não é fácil dançar ao mesmo tempo que muitos outros. É preciso um trabalho de equipa muito forte para que a magia do grupo passe para fora. Sentir esse uníssono e essa força de equipa é igualmente especial.

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13. Quais os exames de ballet que realizou?

Realizei os exames de ballet afetos ao ensino do conservatório. Fiz exame de ballet no 3º,5º,6º,7º e 8º anos de dança do conservatório.

14. Quantas horas por dia ensaiam? E quantas vezes por semana?

Ser bailarino é uma profissão, por isso, e como muitas outras profissões, ensaiamos todos os dias de semana das 10h da manhã até às 18h com uma hora de almoço e dois intervalos de 15m. Como temos uma tabela que designa em que ensaios deveremos estar presentes e seu respectivo horário, por vezes temos dias um pouco mais curtos. No entanto, a nossa tabela diária é das 10h às 18h todos os dias, excepto dias de espectáculo. Nestes dias, seja dia de semana ou fim de semana, começamos por volta das 15h porque o espectáculo é geralmente à noite e prolonga-se muitas vezes até tarde.

15. Há algum ritual que fazem antes de entrar no palco?

Antes de entrar em palco gosto de fazer um bom aquecimento onde não só aqueço o corpo como começo a concentrar-me para o espectáculo. Depois de quente, pontas calçadas e fato vestido gosto de ir para palco rever a coreografia e executar alguns passos coreográficos que sejam mais difíceis tecnicamente. Assim fico mais segura de que vai tudo resultar depois no espectáculo.

16. Sempre teve elasticidade ou teve de trabalhar essa parte? E que tipo de exercícios teve de fazer? Ou que ainda faz?

Infelizmente o meu corpo não é muito elástico. Tenho pena que durante a minha formação não tenha insistido tanto nessa parte porque acho que hoje em dia tudo poderia ser um pouco mais fácil. Só já profissional é que comecei a fazer alongamentos diários e a incorporá-los na minha rotina. Continuo todos os dias a fazer alongamentos para extensão e flexibilidade embora alguns dias um pouco menos do que noutros.

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17. Quando tiver que abandonar a companhia, o que está a pensar fazer?

Ainda ando um pouco à procura. Há dois anos iniciei uma licenciatura em Business Management com a Open University UK porque acho que é uma formação que me pode ser útil em várias áreas. Não sabendo ainda que oportunidades poderão surgir, segui a área de gestão porque se pode adaptar a muitas saídas profissionais. Em 2010 eu e o meu marido fundámos uma Associação Cultural, a Palco Paralelo. Este projecto esteve inicialmente ligado ao serviço educativo e através dele criámos dois espectáculos de dança para o publico infantil. A “Cinderela Em Bicos de pés” para um público + de 3 anos e “Dó, Ré, Mi Perlimpimpim” para bebés dos 0 aos 3 anos. Estas criações foram muito importantes para mim porque me permitiram produzir espectáculos e estar do outro lado do palco. Gostaria talvez no futuro de ficar ligada à produção de espectáculos mas ainda é prematuro ter certezas.

18. Há algum projecto que gostaria de lançar no futuro?

Tenho um pequenino sonho de desenvolver um projecto que ligue a dança à area social. Infelizmente existem imensas crianças que não têm oportunidade de ter acesso ao ensino artístico e seria talvez interessante criar um rede de professores de ensino artístico (música, dança, artes plásticas, etc) que em regime de voluntariado possam desenvolver trabalho com crianças em variadas instituições. Quem sabe o que o futuro reserva. No entanto eu acho que os nossos desejos podem sempre concretizar-se, basta força de vontade.

19. Após ter sido mãe foi difícil voltar a dançar?

Sim, foi difícil voltar. Como referi em cima, o meu corpo não é um corpo fácil para a dança e sofreu durante a gravidez muitas alterações. No entanto, antes de engravidar, essa possibilidade não me demoveu. Era um grande desejo ser mãe e a minha carreira não se sobrepôs a esse desejo. Felizmente, força e determinação nunca me faltaram e coisas maravilhosas acabaram por acontecer na minha carreira depois de ser mãe. Não mudaria nada, muito pelo contrário. Ser mãe engrandeceu a minha vida em todos os sentidos.

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Quero agradecer à bailarina Solange Melo por se ter disponibilizado a participar nesta entrevista, muito obrigada 😀

Quanto a vocês, que acham deste tipo de posts? Gostam? 🙂

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